Pesquisa da Uesb aponta contaminação em 90% do mel vendido em feiras de Itapetinga e Itororó
Irregularidades comprometem a saúde e prejudicam produtores que seguem a legislação.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), no campus de Itapetinga, revelou que 90% das amostras de mel vendidas nas feiras livres de Itapetinga e Itororó apresentam algum tipo de contaminação. O estudo, intitulado “Qualidade e perfil botânico de méis comercializados em feiras livres no município de Itapetinga/Bahia”, foi coordenado pelo professor Adailton Ferreira, do Departamento de Tecnologia Rural e Animal (DTRA).
As análises foram feitas no Laboratório de Bromatologia e Nutrição Animal da Uesb, com base nos critérios do Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel. Segundo o professor, “quanto às análises exigidas pelo Ministério da Agricultura, nenhuma das amostras atendeu aos requisitos estabelecidos, ficando de fora pelo menos em um dos parâmetros”.
As principais fraudes detectadas foram a adição de açúcar e amido ao mel natural. “A contaminação por amido e açúcar comercial compromete a qualidade do produto e pode trazer riscos à saúde do consumidor. Além disso, os produtores e comerciantes idôneos são prejudicados, pois precisam competir com atravessadores que comercializam produtos adulterados”, destacou Adailton Ferreira.
As amostras foram coletadas em diferentes momentos e testadas quanto a umidade, pH e açúcares totais. A adulteração direta, quando há adição de glicose ou xarope de frutose, é uma das formas mais comuns de fraude. Mas há também casos de contaminação indireta, quando substâncias como açúcar comercial, extrato de soja e amido de milho são inseridas na alimentação das abelhas, especialmente durante períodos de seca. Outra forma ocorre quando diferentes méis são misturados, sem controle de origem.
Essas práticas colocam em risco a saúde de pessoas com condições como diabetes ou hipertensão. E o consumidor, muitas vezes, não consegue identificar a adulteração visualmente, pois cor e textura variam conforme a florada utilizada pelas abelhas. Em geral, só se percebe algo errado ao provar o mel, quando o gosto se assemelha ao do açúcar comum ou apresenta uma textura farinácea.
Além do mel, o estudo avaliou amostras de pólen apícola e meliponícola (produzido por abelhas sem ferrão), adquiridas em cinco eventos realizados em 2024. Para esses produtos, segundo o professor, “não são realizados testes de adulteração, apenas os parâmetros exigidos pelo Ministério da Agricultura são avaliados, como umidade, cinzas, lipídios, proteínas, açúcares totais, fibra bruta, acidez livre e pH”.
Entre esses parâmetros, apenas o índice de umidade ficou fora dos limites permitidos. Isso indica que, apesar de não apresentarem adulterações, os derivados também precisam ser melhor monitorados, especialmente quanto à conservação e validade.
No Brasil, a fiscalização da qualidade do mel cabe ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que define os padrões de análise e regula a produção. No entanto, como aponta a pesquisa, esse controle se concentra nos entrepostos cadastrados e unidades de beneficiamento. Isso significa que a maior parte dos produtos vendidos diretamente ao consumidor em feiras escapa da fiscalização.
Diante disso, o professor Adailton orienta os consumidores a dar preferência a produtos inspecionados. “Os méis regulamentados são comercializados com rótulo, selo de inspeção, número de lote e embalagens adequadas”, alerta o pesquisador.
Como desdobramento da pesquisa, a equipe da Uesb pretende desenvolver ações educativas com feirantes e consumidores. “Nosso objetivo é trabalhar com os feirantes para destacar a importância da rastreabilidade dos produtos e das boas práticas de higiene e armazenamento. Além disso, planejamos campanhas para informar a população sobre a qualidade dos produtos apícolas e a importância do consumo de méis inspecionados”, conclui Adailton Ferreira.