Vitória da Conquista registra aumento nos casos de feminicídio, aponta Atlas da Violência
Com o aumento de casos de feminicídios na Bahia, especialistas destacam a importância da denúncia e da conscientização.
Segundo o Atlas da Violência 2025, entre 2017 e 2024, foram registrados 790 feminicídios em toda a Bahia. Em Vitória da Conquista, os casos de violência contra a mulher cresceram nos últimos anos.
Em outubro de 2016, a cantora Jô Almeida foi agredida por um ex-namorado após nove anos de relacionamento. “Foi uma agressão muito bruta. Eu tive o osso do nariz fraturado, o braço fraturado, perdi os dentes do lado esquerdo. A gente tem a ilusão de que a pessoa vai mudar, que vai ser diferente, mas não é. A pessoa não muda de forma alguma se ela não quiser mudar, e muitas vezes ela não muda nem por ela mesma”, disse a cantora.
Depois do episódio, ela conseguiu denunciar a situação, algo que muitas mulheres não fazem logo na primeira violência. “Muitas vezes a gente passa por alguns episódios [de violência], uma fala, uma atitude e a gente não consegue discernir, mas o agressor se mostra todos os dias”, destacou Jô Almeida.
Em Vitória da Conquista, foram expedidas 1.281 medidas protetivas em 2024, e até abril deste ano, já foram registradas 430. As mulheres que denunciam passam a ser acompanhadas pela Ronda Maria da Penha. Atualmente, cerca de 300 mulheres recebem esse suporte no município.
A Bahia lidera o ranking de feminicídios no Nordeste e está entre os quatro estados com as maiores taxas do país, com quase seis feminicídios a cada 100 mil mulheres em 2024. A maioria das vítimas, cerca de 87%, é negra. Em cerca de 70% dos casos, o crime ocorre dentro da casa da vítima.
No município, os feminicídios aumentaram: foram dois casos em 2023 e três em 2024, todos cometidos na residência das vítimas por ex-companheiros que não aceitaram o fim do relacionamento. Nenhuma das vítimas havia feito denúncia anteriormente, mesmo com um histórico de violência.
Para a vice-presidente da Comissão da Mulher da OAB, Ana Luísa Botelho, esses crimes continuam acontecendo devido a fatores estruturais e à falta de informação. Além de reforçar a importância da denúncia, ela destaca que é fundamental incluir os homens no debate e na prevenção. “Muitas pessoas desconhecem, acham que a violência doméstica é apenas a violência física, mas esquecem que a Lei Maria da Penha traz mais quatro tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher, que é a violência patrimonial, violência moral, sexual e psicológica. Então, trazer os homens a esse debate é de suma importância”, explica.
Se você sofre violência ou conhece alguém nessa situação, não deixe de buscar ajuda.
Você pode ligar para a Central de Atendimento à Mulher, pelo número 180 ou pelo Whatsapp (61) 9610-0180. Esse é um serviço nacional gratuito, disponível 24 horas, que oferece orientação e acolhimento.
Em Vitória da Conquista, as denúncias podem ser feitas na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) pelo telefone (77) 3292-3651 / 3435-8369 ou presencialmente no endereço Rua Humberto de Campos, nº 136, bairro Jurema. O atendimento funciona 24h por dia.
Lembre-se: denunciar é um passo fundamental para interromper o ciclo de violência.