Com mais de 9 mil famílias atendidas, Alimenta Conquista precisa de apoio para seguir combatendo a fome
Mais de 75 toneladas de alimentos já foram entregues a famílias em situação de vulnerabilidade, mas o número de doadores caiu, e o projeto pode ter que diminuir o alcance do trabalho.
Na zona rural de Vitória da Conquista, há casas feitas de lona e madeira. Não têm portas, nem água encanada, às vezes nem fogão. Em um desses lugares, uma mulher recebeu uma cesta básica e, sem conseguir esconder a pressa, agradeceu e disse ao voluntário: “Preciso comer agora”. Foi embora com os olhos fixos na sacola, sem tempo para conversa. Há quem chame isso de urgência, para o Projeto Alimenta Conquista, isso se chama realidade.
Criado em 2021, no auge da pandemia, o projeto nasceu como uma campanha emergencial para levar comida a quem estava passando fome. A ideia inicial era atuar por seis meses. Mas a fome não foi embora, e o Alimenta Conquista também não.
O que era temporário se tornou contínuo, com entregas mensais de cestas básicas e kits de higiene pessoal em dezenas de comunidades urbanas e rurais. Foram mais de 9 mil famílias atendidas, mais de 75 toneladas de alimentos distribuídos e cerca de 70 localidades alcançadas ao longo dos últimos quatro anos.
João Daniel Barros, um dos coordenadores do projeto, conta que a queda no número de doadores fixos é o maior desafio enfrentado atualmente. “Antes, conseguíamos entregar de 200 a 300 cestas por mês. Em abril, conseguimos apenas 60. É o número mais baixo desde o começo”, afirma. Para voltar a atender o mínimo histórico de 200 famílias, o projeto precisaria arrecadar cerca de R$ 8 mil por mês. Atualmente, esse valor não está sendo alcançado.
O Alimenta Conquista funciona exclusivamente com base nas doações recebidas, seja em dinheiro, seja em alimentos. “A continuidade do projeto nunca esteve sob risco. Mas é possível que a gente precise reduzir ainda mais a quantidade de cestas entregues, o que é muito duro de aceitar”, diz João.
Boa parte das doações vem de pessoas físicas, por meio da plataforma Apoia.se ou via PIX. O valor mínimo mensal é de R$ 10. Mas o perfil dos doadores tem mudado. “Muita gente começou a doar durante a pandemia, num momento de comoção social. Com o tempo, essas pessoas foram saindo, e não entrou gente nova no lugar”.
Nas entregas, os voluntários testemunham histórias que não cabem em números. Em um assentamento urbano da cidade, a fila de moradores à espera das cestas foi tão grande que a equipe precisou esconder parte dos alimentos dentro de um barraco e acelerar a entrega, com medo de um tumulto. “Tem ação que termina com 80 pessoas na sua frente, chorando, gritando porque não vão receber. É devastador”, relata João.
Os relatos mais graves vêm da zona rural. Lá, segundo ele, a vulnerabilidade é ainda maior. “Casas com oito pessoas vivendo em um espaço do tamanho de um quarto. A fome é mais dura quando ela é invisível.” O projeto conta com uma rede de lideranças locais que ajudam a identificar, com precisão, as famílias que mais precisam.
Além das doações de pessoas físicas, o projeto também recebe apoios pontuais da iniciativa privada. Empresas como o Grupo chiacchio e a Neoenergia, que recentemente doou 2,5 toneladas de alimentos, já contribuíram com ações importantes. Mas é o apoio mensal e constante que mantém o projeto vivo.
“Tem dias que a gente volta com um peso difícil de explicar. Porque a gente vê o desespero no rosto de quem não foi contemplado. Vê que não é só uma questão de doação, é uma questão de sobrevivência”, desabafa o coordenador.
Apesar de tudo, João Daniel Barros não fala em desistência. “A gente quer que as pessoas entendam que isso aqui é real. Que tem gente que ainda passa fome em Vitória da Conquista”. E enquanto houver alguém que precise comer agora, o Alimenta Conquista vai continuar indo.
👉 Como ajudar
As doações podem ser feitas por meio da plataforma apoia.se (clique aqui), com valores a partir de R$ 10 mensais. Também é possível contribuir com qualquer quantia via PIX: [email protected]. O projeto aceita alimentos, itens de higiene e apoio voluntário nas ações de montagem e entrega. Toda ajuda é bem-vinda para manter esse trabalho vivo, constante e transformador.